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Produtores de caqui em alerta: queda na comercialização e nos preços preocupa o setor em plena época de colheita

Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo está atenta às dificuldades, realizando levantamentos e identificando os principais problemas.

“Esta situação é ímpar. Nem em pesadelos pensei em vivenciar um momento como este. Nem meu pai de 76 anos, que foi um dos pioneiros da plantação de uva aqui em Pilar do Sul, também não se recorda de um período de tantas incertezas e medo”. Este é o desabafo do produtor Cláudio Valco Corrêa, 49, fruticultor que tem o caqui como a principal atividade agrícola, ao lado de atemoia e citros, sobre o cenário da produção da fruta, que segundo ele foi recorde neste ano, na região de Sorocaba, onde está a sua propriedade.

“Em cerca de 30 hectares, tivemos uma produção de mais de 500 toneladas e uma expectativa boa de preço, de cerca de R$ 20,00 a caixa com seis quilos, até algumas semanas. Temos uma boa infraestrutura logística de entrega, um grande canal de comercialização na merenda escolar, Centrais de Abastecimento (Ceasas) e distribuidores. Com o fechamento momentâneo das escolas, não entregamos mais nessa política pública. Até o feriado da Semana Santa, ainda conseguimos fazer algumas entregas para um comprador do Rio de Janeiro, mas, desde o dia 13 de abril, a comercialização vem caindo e os preços oferecidos despencando, com uma redução que passa dos 30% e, por conversas com distribuidores, a redução será ainda maior. E tudo isso em plena época de colheita, quando contratamos mais funcionários (o produtor tem cerca de 20 no momento)”, conta Cláudio, que relata muita apreensão e ansiedade, diante de um futuro incerto e com cerca de 300 toneladas da fruta – que é muito perecível – em pés carregados e armazém cheio.

Para Elias Issao Onoda, gerente da Cooperativa Agroindustrial (APPC), com sede em Pilar do Sul, os produtores da região estão passando por dificuldades. “A principal é a comercialização”, explica, relatando que a Cooperativa tem cerca de 15 cooperados produtores de caqui, com uma estimativa de produção em torno de 3,5 a 4 mil toneladas, divididas entre as principais variedades cultivadas Rama Forte (60%), Fuyu (30%) e Guiombo (10%), em uma área produtiva aproximada de 180 hectares ‒ levantamento feito pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento, por meio da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Sorocaba ‒, mostrou que Pilar do Sul, município com maior produção na região, tem 35 produtores e uma produção estimada em 7.500 toneladas. “E a maioria não está conseguindo comercializar seus produtos, além da baixa nos preços. Ainda não identificamos perdas significativas no campo, mas creio que logo teremos, pois quanto mais tempo o produtor deixa sua fruta na planta, a qualidade vai piorando”.

De acordo com Elias, para apoiar os cooperados, a APPC está trabalhando com custo zero, ou seja, sem margem de retenção, para tentar melhorar os preços pagos aos produtores. “Abrimos novos canais de vendas como o delivery, mas ainda opera com baixo volume. Estamos chegando num ponto crítico, quando as perdas serão bastante significativas, tanto no campo como no preço”, avalia, dizendo que ainda estão comercializando, mas os volumes estão muito abaixo da necessidade de escoamento. “Nosso mercado está mais direcionado para São Paulo e Rio de Janeiro, grandes compradores, mas como as Ceasas estão trabalhando com muita oferta e pouca procura, inúmeras frutas estão estragando nos boxes. Então estamos preocupados com uma possível renegociação nos preços, o que irá piorar ainda mais o cenário”.

Analisando o cenário em curto prazo, Elias salienta: “Geramos muitos empregos e, por enquanto, ainda não foi preciso demitir ninguém, tanto na cooperativa como no campo, mas se essa crise perdurar por mais tempo, creio que muitos produtores não vão conseguir pagar as contas e, como consequência, poderão ocorrer demissões, além de outros problemas oriundos da falta de recursos. Por isso, reforçamos a importância de os governos estabelecerem ações de renegociação e prorrogação de dívidas, no mínimo por um ano, haja vista que nossas culturas são anuais, bem como novas linhas de crédito”.

Secretaria de Agricultura está atenta às dificuldades dos produtores de caqui

Por meio de sua equipe de extensão rural da CDRS, a Secretaria de Agricultura tem feito levantamentos e identificado os problemas dos produtores de caqui, para balizar ações do poder público com a cadeia produtiva.

Na região de Mogi das Cruzes, maior produtora de caqui do Estado – com uma área de 1.484 hectares, 468 propriedades onde se cultiva caqui das variedades Fuyu, Guiombo e Rama Forte, e uma produção estimada de 65 mil toneladas em 2020 – Felipe Monteiro de Almeida, diretor da CDRS Regional Mogi das Cruzes, faz um detalhamento da situação, após levantamento junto aos produtores. “Identificamos que a baixa demanda do produto, por conta da falta de compradores na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), resultou em uma queda de cerca de 30% no preço, por conta da grande oferta e dos poucos canais de venda. Aliado a isso, a paralisação de Compras Públicas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) – por conta da suspensão temporária das aulas – e o fato de a mão de obra especializada para a colheita de caqui em nossa região tradicionalmente vir de outros estados, o que não está ocorrendo no momento, o ritmo da colheita diminuiu bastante, fazendo com que os frutos venham a estragar no pé, haja vista que após atingir seu ponto de colheita, a fruta tem vida de prateleira muito curta”.

Sobre a adoção de estratégias para maior conservação dos frutos, visando minimizar as perdas, Felipe, que é engenheiro agrônomo, salienta que os processos de conservação do caqui no pé devem ser feitos com a utilização de um produto específico no início da formação dos frutos. “Sendo assim, neste momento de plena colheita não é mais possível”. Sobre a conservação no pós-colheita, o agrônomo explica que, uma vez colhidos, os caquis devem ser expostos ao produto em ambiente hermeticamente fechado. “Porém poucos produtores possuem estrutura física, como uma câmara fria, e seu investimento é alto. Com o preço baixo, fica difícil para o produtor, que se encontra descapitalizado, investir recurso para conservação, pois gera mais custos de produção”.

Neste cenário de grandes dificuldades, Felipe diz que o levantamento realizado mostrou que os produtores, que têm como clientes grandes redes de supermercados, continuam a colheita, porém em ritmo menor. “Os produtores de nossa região aguardam, com esperança, que dias melhores cheguem antes do término da safra e contam com ações coordenadas com o poder público, entidades ligadas ao setor e representantes de diversos canais de comercialização”, avalia, enfatizando que esta confiança no trabalho conjunto, com articulação do Governo do Estado, vem de anos de atuação da extensão rural da Secretaria de Agricultura como facilitadora de políticas públicas, difusora de conhecimento e tecnologia e incentivadora da organização do setor. “Em um trabalho de longa data, com objetivo único de fortalecer a cadeia produtiva do caqui em nossa região, nós da Secretaria de Agricultura – em parceria com o Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e os produtores rurais do Alto Tietê – investimos na adoção de técnicas e tecnologia no Sistema de Produção Integrada que utiliza um conjunto de práticas agrícolas que viabilize economicamente a propriedade, maximizando o uso dos recursos naturais e assegurando a redução de riscos às pessoas, preservando o meio ambiente. Esse trabalho levou a nossa produção de caqui a um patamar de excelente qualidade com alta produtividade, o que propiciou à nossa região se tornar responsável por mais de 50% da produção brasileira”.

Agregação de valor à produção pode minimizar as perdas de pequenos produtores
Com um trabalho de décadas na área de capacitação em processamento artesanal de alimentos e incentivo à agroindústria artesanal, a Secretaria de Agricultura aponta a agregação de valor à produção de caqui como uma alternativa para os pequenos produtores diminuírem perdas. “Apesar de muitos não terem conhecimento, o caqui é uma fruta versátil, que pode ser consumida e utilizada além da forma in natura. Vinagre de caqui, caqui-passa, caqui seco, entre outros produtos, que são 100% naturais, podem ser obtidos por meio do processamento artesanal, com pequenas máquinas disponíveis no mercado ou adaptação de equipamentos na propriedade”, informa em seus cursos realizados na área, a engenheira agrônoma Silvana Catarina Sales Bueno, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, que atua no Núcleo de Produção de Mudas de São Bento do Sapucaí, ligado à CDRS.

Silvana, que também é produtora de caqui e outras frutas, está investindo em novos nichos de comercialização como a venda direta e entrega delivery, bem como no processamento para minimizar as perdas. “A elaboração de produtos com caqui é importante para ampliar a fonte de renda, pois abre outros canais de comercialização. No Estado de São Paulo, já existem casos de cooperativas de produtores que produzem vinagre, tendo aberto novos mercados para a comercialização e acabando com o desperdício de frutas”.

De acordo com a agrônoma, outra informação relevante para os consumidores sobre esta fruta – que é originária da China, com plantios seculares e muito consumida no Japão (na década de 1920, os imigrantes japoneses foram responsáveis pela expansão da cultura no Brasil, com a introdução de novas variedades e domínio da produção) — são as suas propriedades nutricionais: o caqui é uma fruta rica em vitaminas A, B1, B2 e E, além de cálcio, ferro, proteínas, fibras alimentares, minerais e antioxidantes que fortalecem o sistema imunológico, bem como tem baixas calorias (80kcal por 100g), sendo livre de gordura, colesterol e sódio.

Receita para agregação de valor na pequena propriedade
Caqui seco – tipo Chips
O processo de desidratar o caqui pode ser feito no forno doméstico ou fogão à lenha, usando uma fôrma de assar comum e, ao final do processo, a fruta seca ainda manterá suas propriedades nutricionais e sabor mais doce que o produto ao natural, pois a secagem ajuda a concentrar a frutose presente na fruta. Pode ser feita também em secadoras de bandejas, com ventilação, onde os caquis desidratados a 38ºC, por 24h, mantêm grande parte das características nutricionais do fruto.

“As frutas desidratadas apresentam muitos benefícios, pois são ricas em fibras, minerais, potássio, cálcio, ferro, magnésio, selênio, vitaminas A e do Complexo B, mas é bom lembrar que o seu valor calórico não muda – a fruta apenas perde água – e parte da vitamina C também pode se perder no processo. O melhor é sempre consumir frutos ao natural, mas quando isso não é possível, as secas podem ser usadas”, enfatiza Silvana Bueno, nos cursos.

Para esse tipo de produto, é melhor usar os caquis doces, tipo Amagaki, como o Fuyu, Fuyuhana e o Gosho; os que não amarram a boca, quando verdolengos, pois o tanino é imperceptível ao palato.

Ingredientes: caquis semimaduros; suco de um limão (uso opcional)
Modo de preparar
Lave bem os caquis e os higienize, colocando-os em uma solução clorada com 1L de água, adicionando 10mL (1 colher de sopa rasa) de água sanitária a 2,5%, por 15 minutos.

Retire os cálices e pedúnculos. Corte-os em fatias bem finas. Mergulhe os caquis cortados em uma tigela com água e o suco do limão, para não escurecer o fruto (opcional). Se os mergulhar na solução com limão, enxugue-os bem com um papel-toalha que não solte fiapos e espalhe-os em uma assadeira grande forrada com papel-manteiga, sem amontoar as fatias (dependendo do tamanho do forno, será necessário repetir a operação algumas vezes).

Asse em forno com temperatura de baixa para média por cerca de 1h30, ou até notar que as fatias já estejam desidratadas. (Uma dica é deixar a porta do forno um pouco aberta, para permitir que o vapor saia).

No fogão a lenha, acenda-o e depois de esquentá-lo, retire a lenha, deixe-o esfriar, até conseguir ficar com as mãos dentro dele por alguns segundos; antes de colocar as fatias de caqui, deixe a porta entreaberta, por cerca de 12h.
Na secadora de frutas, regular a 40ºC por 48h.

Depois de assadas, esfrie bem as fatias antes de guardar em um recipiente hermético. Ótimo para acompanhar sorvetes, tortas ou simplesmente como um petisco natural.

Receitas para fazer em casa
Para Felipe Monteiro, diretor da CDRS Regional Mogi das Cruzes, é importante frisar aos consumidores que a fruta in natura não precisa ser consumida apenas dessa forma, podendo ser utilizada em diversas receitas como bolos, sorvetes, musses, sucos, compotas, geleias etc.

As receitas a seguir são da Cartilha sobre a produção de caqui na região de Mogi das Cruzes, elaborada pela CDRS Regional e a Prefeitura Municipal.

Geleia de caqui
Ingredientes: 1 e ½ quilo de caqui vermelho e maduro; 1 quilo de açúcar; ½ limão com casca; e 1 copo de água.

Modo de preparo
Lave os caquis, retire a pele e passe-os numa peneira. Leve o açúcar ao fogo até dissolver, junte o limão, despeje os caquis e cozinhe-os em fogo brando. Mexa frequentemente, porque a geleia, à medida que encorpa, gruda no fundo da panela. Tire-a do fogo somente quando estiver bem grossa. Deixe-a esfriar e guarde-a em recipiente de vidro, previamente preparado, e feche-o hermeticamente. Rende 51 porções, com 30g cada.

Creme de caqui
Ingredientes: 6 caquis Rama-forte médios bem maduros; 1 lata de creme de leite; e 1 lata de leite condensado.
Modo de preparo
Bata os caquis com casca no liquidificador. Obs.: quando batida ligeiramente, partículas da casca darão realce ao creme. Em um recipiente, misture o purê de caqui com o creme de leite e o leite condensado.

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