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Os desafios globais da segurança alimentar e o setor de fertilizantes

Valter Casarin* e Ricardo Tortorella**

Considerada sua gravidade e posicionamento no topo da lista de problemas mundiais, a fome é um tema que precisa ser tratado com mais agilidade. Em recente evento promovido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), o World Food Fórum, mais dados alarmantes foram apresentados: três em cada dez pessoas no mundo vivem em insegurança alimentar moderada e grave. São 2,4 bilhões de indivíduos sem dinheiro suficiente, que não comem ou se alimentam mal em algum momento do mês. Além disso, 3,1 bilhões não têm condições de pagar uma dieta saudável, equilibrada entre produtos in natura, processados e ultraprocessados.

Quando olhamos apenas para o nosso país, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), mais de 65 milhões de habitantes, ou quase 30% da população, vivem em situação de insegurança alimentar, corroborando dados da FAO. Diante dessas estatísticas, muitos podem estar se perguntando: “O planeta produz comida suficiente para alimentar todos os seres humanos?”. A resposta é “sim”, mas é evidente que existe um grande descompasso entre a produção e a demanda global de alimentos.

As principais razões desse desequilíbrio estão ligadas à renda e à logística. Dentre as causas do problema está o fato de que 60% das pessoas com fome no mundo vivem em zonas de conflitos. Além disso, tempestades, enchentes e secas cada vez mais recorrentes, provocadas pelas mudanças climáticas, impulsionam 98% das migrações, o que dificulta o acesso a inúmeros produtos, dentre eles os alimentos. Isso significa que produzimos comida suficiente, mas criamos o paradoxo de não conseguir fazê-la chegar a quem precisa.

Nesse cenário, é importante discutir, ainda, o desperdício alimentar. Um solo com boa fertilidade melhora a qualidade dos alimentos e é fundamental para a saúde humana. Nutrir com equilíbrio, frutas, legumes e verduras também é relevante no enfrentamento das perdas. Alimentos com deficiência não apresentam aparência saudável, duram menos e se perdem em pouco tempo. Além disso, quanto mais se desperdiça, mais cara fica a comida que chega à mesa das famílias.

Dados da FAO apontam que 46% dos desperdícios de alimentos no planeta ocorrem nas etapas de processamento, distribuição e consumo. Os outros 54% acontecem nas fases de manipulação pós-colheita e a armazenagem. O Brasil é o 10° colocado no ranking mundial de desperdício. Em nosso país, as perdas, por dia, são de 40 mil toneladas de alimentos, quantidade que daria para suprir aproximadamente 19 milhões de cidadãos diariamente ao longo de um ano, o mesmo que toda a população do Chile.

Poucos sabem, mas os solos brasileiros são de baixa fertilidade, ou seja, têm baixa disponibilidade de nutrientes para as lavouras. Estamos falando do fundamento da cadeia alimentar. São os nutrientes que regulam o metabolismo da planta, formando a base da produção vegetal para alimentar diretamente o ser humano. Independentemente da fonte do adubo, mineral ou orgânico, as culturas têm necessidades de quantidades equilibradas de nutrientes de maneira assimilável. O adubo é a fonte de alimento para as plantas. Os minerais são produzidos a partir de depósitos da natureza ou extraídos do ar.

As matérias-primas para produção dos adubos são processadas para eliminar certas impurezas e transformar os nutrientes em formas assimiláveis para a absorção pelas plantas e reduzir o custo de transporte à aplicação no campo. Contudo, suas composições continuam sendo de moléculas naturais, e não artificiais. Vale destacar que a agricultura brasileira está cada vez mais preocupada com a sustentabilidade. Isso é comprovado pelo aumento das áreas com o sistema de plantio direto, na qual se preserva o solo, valoriza a reciclagem dos nutrientes e sustenta a microbiologia da terra.

A tendência, nos últimos anos, tem sido de crescimento no volume das colheitas. No Brasil, tivemos aumento na produção de grãos acima de 130%, com ganho de produtividade de aproximadamente 70%, enquanto a área cultivada expandiu-se pouco acima de 40%. Da mesma forma, o consumo de adubos acompanhou o fomento produtivo da agricultura brasileira, demonstrando a contribuição deste insumo no fornecimento de alimentos e na preservação ambiental.

Isso significa que estamos produzindo mais, sem a necessidade de abertura de novas áreas, ou seja, sem desmatamento. Certamente, as perspectivas podem ser cada vez melhores. Daí a necessidade de esclarecer e informar a sociedade brasileira, com base em estudos científicos, sobre a importância e benefícios das boas técnicas de adubação na produção e qualidade de alimentos.

*Valter Casarin, engenheiro agrônomo e florestal, é coordenador da Iniciativa Nutrientes para a Vida (NPV).

**Ricardo Tortorella, economista, é diretor-executivo da Associação Nacional de Difusão de Adubos (ANDA).

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