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Iniciativas das foodtechs para o desafio da insegurança alimentar mundial

*Por Roberta Tiso, Diretora de Marketing e Sustentabilidade da green4T 

Com o agravamento da fome no mundo como um dos impactos causados pela pandemia de Covid-19, as foodtechs têm se posicionado como uma solução ao desafio de garantir o acesso à comida de forma ampla e irrestrita. Diante deste cenário, essas startups, agregadas às estruturas das corporações e estimuladas a encontrar respostas ao aumento de demanda por alimentos têm construído iniciativas para produzir comida suficiente para todos.

Estamos falando de aproximadamente 7,8 bilhões de pessoas em todo o planeta. Estas novas empresas têm sido essenciais na criação de novos alimentos, no aumento da produtividade, na distribuição mais eficiente dos produtos, no monitoramento da qualidade do ciclo de produção e na mitigação do impacto ambiental do setor.

Ao final de 2020, um levantamento publicado pela Organização das Nações Unidas (ONU) revelou que mais de 2,3 bilhões de pessoas não tiveram acesso à alimentação adequada naquele ano. Deste total, 811 milhões estiveram subalimentadas — cerca de 9,9% da população mundial. Em 2019, este índice foi de 8,4%, o que demonstra esse aumento. O estudo, batizado de “O Estado da Insegurança Alimentar e Nutrição do Mundo (SOFI) 2021”, foi realizado pela Food and Agriculture Organization (FAO), em parceria com diversas outras agências da ONU como a UNICEF, a OMS e a WFP, o programa mundial de alimentos das Nações Unidas.

Carne cultivada

Quanto ao desenvolvimento de alimentos com alta tecnologia, o fenômeno mais recente é a chamada “carne cultivada”. Em resumo, são bifes, hambúrgueres e nuggets produzidos em laboratório a partir de células de origem animal (bois e aves) ou de tecidos criados com fibras vegetais. O fator econômico chama a atenção neste novo segmento. Dados da consultoria McKinsey, de junho de 2021, apontam que a indústria de carnes cultivadas pode representar entre 0,5% e 1% de todo o fornecimento global de proteína animal até 2030. Na prática, trata-se de um mercado avaliado em US$ 25 bilhões.

Por exemplo, a empresa Eat Just, uma foodtech californiana fundada em 2011 que cresceu internacionalmente ao desenvolver ovos feitos à base de brotos de feijão e carne de frango a partir de células extraídas de penas de galinha. Vale lembrar que, em 2020, Singapura foi o primeiro país do mundo a aprovar e autorizar a comercialização deste tipo de carne em larga escala.

Com o mesmo conceito, a também americana Upside Foods aposta neste mercado de carne cultivada dentro de bioreatores. Em dezembro de 2021, eles inauguraram uma moderna fábrica de 16 mil m² que será capaz de produzir 23 toneladas de proteína animal sem o abate de seres vivos. A startup alega, ainda, que este processo reduz em 90% o consumo de recursos naturais, como água e solo, comuns no meio de criação de gado e frango tradicionais, e diminui em igual percentual as emissões de gases do efeito estufa.

Campo mais produtivo — e sustentável

Nos últimos anos, os investimentos na jornada de digitalização das lavouras têm acelerado o ritmo, sendo a inteligência de dados a onda tecnológica mais recente como aposta de tendência para o setor. A aplicação de facilidades como a Internet das Coisas (IoT, em inglês), edge computing, big data, drones e satélites para a coleta e processamento de informações, tem permitido expandir a produção, reduzir custos e tornar a atividade agropecuária mais amigável ao meio ambiente.

Martin afirma que a combinação de máquinas modernas conectadas e orientadas por dados têm a sua eficiência demonstrada em números. Quanto mais tecnológico o campo, maior a produtividade e menor a ocupação do solo. A adoção de recursos digitais tem sido cada vez mais difundida no meio rural do Brasil. Outro estudo McKinsey, realizado com 750 produtores de 11 estados brasileiros em julho de 2020, revela que 34% assumiram utilizar algum tipo de tecnologia para realizar aquisições de itens voltados à melhoria das safras. Nos Estados Unidos, este percentual é de 26%.

Inteligência artificial e blockchain

Duas tecnologias, em especial, têm ganhado relevância entre as foodtechs que atendem a indústria de alimentos nos últimos anos: inteligência artificial e blockchain. Em comum, ambas têm contribuído para elevar a qualidade dos produtos que chegam à mesa das pessoas.

Sistemas inteligentes combinados com machine learning têm atuado na indústria de diferentes maneiras, reduzindo o risco de falha humana nos processos produtivos. Na Turquia, por exemplo, foram implantados sensores de odor, os e-noses ou narizes eletrônicos, em português, utilizados junto aos produtores de azeite da região de Balikesir. Depois de programados, a função era identificar eventuais adulterações no óleo de oliva, reconhecendo combinações de safras diferentes e inferiores em qualidade que pudessem comprometer o valor dos azeites.

Já o diferencial no uso do blockchain é permitir o rastreamento instantâneo de toda a cadeia produtiva que envolve o alimento. Assim, a partir de um simples QR Code na embalagem do produto é possível visualizar todos os pontos de contato relativos a ele, do momento do plantio, crescimento, localização de origem, manuseio, empacotamento e emissão de gases do efeito estufa com o transporte antes de seguir para a gôndola do supermercado. A grande vantagem embutida neste recurso não é apenas a velocidade de checagem, mas garantir que o alimento esteja absolutamente em conformidade com todas as exigências sanitárias de cada país relacionadas à produção de alimentos.

Legados

Para o setor de alimentos, a pandemia não somente evidenciou a insegurança alimentar que aflige um imenso número de pessoas, mas deixará como legado também a percepção crescente de que é preciso que todos se alimentem melhor e com mais qualidade. Além disso, gerou nas pessoas o desejo por transparência. Cada vez mais elas querem saber do que é verdadeiramente feito aquilo que comem, como fora produzido e qual o impacto do processo no clima.

Como fio condutor de toda essa transformação está a tecnologia. Companhias do setor e startups devem se debruçar ainda mais sobre os problemas que levam à falta de comida em quantidade adequada no prato de mais de dois bilhões de pessoas todos os anos, e encontrar soluções que mitiguem este drama universal, por meio do desenvolvimento de novos modos de produção e de distribuição de alimentos, mais sustentáveis, ágeis, acessíveis e conectados.

Sobre a green4T

A green4T é uma empresa brasileira, fundada em 2016 e presente em todos os países da América Latina. Tem o compromisso de desenvolver soluções de tecnologia e infraestrutura para a transformação digital de empresas e cidades de forma eficiente e sustentável para o planeta.

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