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Feijão ganha espaço como alternativa à proteína animal

O Brasil é um dos maiores consumidores de feijão do mundo. Hábito que se intensificou durante a quarentena, segundo informações da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).

Em um período em que grande parte da população passou a consumir alimentos preparados em casa, o produto ganhou espaço como alternativa à proteína animal, o que se revelou uma ótima opção, uma vez que, de acordo com os pesquisadores, o feijão oferece o menor uso de recursos naturais por quilo de proteína entregue, além de ser rico em fibras, prevenir doenças cardiovasculares e ajudar no controle da anemia. Veja aqui video sobre a produção paulista de feijão.

Por aqui, podem ser encontrados cerca de 15 tipos, mas o carioca tem a preferência de mais de 60% dos consumidores, por isso ocupa quase metade da área plantada no País. Outros 20%, são dedicados ao cultivo do feijão preto, bastante consumido no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo, e, para o preparo de feijoada, no restante do País. O restante, pouco mais de 30% da área, é destinado às outras variedades, entre as quais: fradinho (também conhecido como feijão-de-corda), caupi, macaça (quando os grãos estão frescos é chamado de feijão-verde), vermelho, mungo (quando germinado, moyashi), branco, tigre e rosinha.

Em 2019, foram produzidas no País 2.929 mil toneladas, sendo que os estados do Paraná, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso concentram as maiores áreas destinadas à cultura. Em São Paulo, que figura na quinta posição no ranking, a cultura está presente em toda extensão, mas concentra-se nas regiões de Avaré e Itapeva que respondem por mais de 62% da produção, de acordo com o Instituto de Economia Agrícola, instituição de pesquisa vinculada à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (IEA/Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

Diariamente no prato das famílias paulistas, o feijão perdeu espaço para outras culturas. Nos últimos dez anos, 22.321 hectares foram dedicados ao cultivo de outros produtos, no Estado São Paulo. No entanto, a produtividade conseguida através da utilização de cultivares mais adequados e adoção de novas tecnologias fez com que a produção aumentasse quase 40% neste período.

Pesquisa e Transferência de conhecimento

Desenvolvido pelo Instituto Agronômico (IAC/Apta), na década de 1960, o feijão carioca permanece em processo de melhoramento até a atualidade e foi o tipo mais licenciado aos produtores de sementes ao longo do período de 2010 a 2019 ( leia mais aqui). “No total, foram 1.458,2 toneladas de sementes autorizadas para semeadura somadas as diversas cultivares IAC”, afirma Luiza Maria Capanema Bezerra, pesquisadora do IAC responsável pela pesquisa realizada para aferir a eficácia na transferência de tecnologias relacionadas ao grão de feijão.

De acordo com o estudo, entre 2010 e 2019 foram autorizados os plantios de 1.670,8 toneladas de sementes dos três tipos de feijão – carioca, preto e rajado. As empresas recebem do IAC as sementes genéticas, que carregam a garantia das características agronômicas obtidas na pesquisa, como resistência a pragas e doenças, produtividade e qualidades nutricionais. Após multiplicar, essas empresas transferem esses materiais aos agricultores.

As três principais cultivares transferidas para Goiás foram: IAC Imperador, IAC Milênio e IAC Formoso, todos do tipo carioca. Em Minas Gerais, destacaram-se IAC Milênio, IAC Imperador e IAC Netuno, este último é feijão preto. Estas três também foram as mais demandadas no Paraná.

A maior concentração em transferência ao setor produtivo de cultivares do tipo comercial carioca reflete o padrão de consumo da população brasileira, que prefere esse grão. As cultivares do tipo carioca estão na 42ª geração, com pacote tecnológico que reúne alto potencial produtivo, resistência a pragas e doenças, tamanho de grão, tempo de cozimento, valor nutricional e aceitabilidade comercial.

A partir de 2016, o IAC adotou uma estratégia de diversificação de seu portfólio de tecnologias de feijoeiro com o objetivo de oferecer tipos comerciais diferentes do carioca, como preto e rajados. A proposta é disponibilizar grãos que tenham oportunidades também no mercado externo, a exemplo do IAC Nuance com grãos rajados tipo Cranberry, e a cultivar IAC Tigre, com grãos rajados tipo Pinto Beans, um tipo americanizado, consumido no México, Canadá e Europa.

A programação científica no IAC está atenta às preferências de consumo e às tendências mercadológicas no Brasil e no exterior, considerando variabilidade de tipos, qualidade, nutrição e preço. Estão em fase de final de desenvolvimento no Instituto Agronômico cultivares de feijão do tipo Nave beans, com grão pequeno e branco, e o Small Red, com grão vermelho. Atender ao mercado externo traz desafios às instituições de pesquisa e à indústria alimentícia na cadeia de produção do feijão. “É preciso oferecer continuamente soluções tecnológicas capazes de fomentar a inovação”, diz Luiza.

Um dos responsáveis em fazer a ponte entre o laboratório e o campo, Eliseu Aires de Melo, diretor da Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS) Regional Avaré, maior região produtora no Estado, afirma que as cultivares mais plantadas na região são: Dama e BRS Estilo e entre as cultivares do IAC, a Netuno (grupo preto) e Sintonia (grupo carioca). “Os produtores da região têm o perfil de médio a grandes, pois a cultura é bastante tecnificada, exigindo investimentos maiores e, portanto, tornou-se inviável aos pequenos produtores”, explica Eliseu. Segundo ele, os produtores da região encontraram um nicho de comercialização porque conseguem antecipar a colheita em relação aos outros estados produtores, como Mato Grosso e Paraná, conseguindo dessa forma negociar melhores preços, por dispor do produto fora do período de maior concorrência.

Outra importante vantagem é que, antecipando o plantio e, consequentemente, a colheita os produtores minimizam a ocorrência de pragas, como a mosca-branca, grande problema nas lavouras de feijão. “Os produtores concluíram ser preferível correr o risco de geadas na época de colheita do que correr o risco de a lavoura ser atacada pelo inseto”, afirma Eliseu dizendo ser “um risco controlado, principalmente nas lavouras irrigadas, e que tem dado certo ao longo dos anos, garantindo uma boa lucratividade”.

As épocas de plantio vão de julho a setembro, concentrada em 80% de 15 de julho a 15 de agosto, com colheitas de outubro a dezembro. E a segunda época vai de janeiro a março, com colheitas de abril a junho. “A segunda época é restrita a altitudes acima de 650m por causa da ocorrência da mosca-branca”, explica o engenheiro agrônomo Rubens Yamanaka, diretor do Núcleo de Produção de Sementes de Avaré, unidade vinculada ao Departamento de Sementes, Mudas e Matrizes da CDRS/SAA. A produtividade média da cultura irrigada é de 60 sacas/hectare, segundo Simon Veldt, presidente da Cooperativa Agroindustrial de Holambra, a qual concentra grande números de produtores de feijão na região.

Visita técnica

Gustavo Junqueira, secretário de Agricultura, visitou, nesta quinta-feira, 06 de agosto, a sede das indústrias Kicaldo, única marca de feijão que está presente em todo o País. Com distribuição de mais de 20 toneladas/mês, a empresa prima pelo alto padrão de qualidade na seleção dos grãos, produção com tecnologia de última geração, através de processos 100% automatizados.

A unidade de Barueri é a mais moderna indústria com a maior capacidade de produção de feijão do país “Nosso mote é a saudabilidade. Toda nossa linha é focada na geração de saúde à população”, afirmou Mauro Bortolanza, diretor geral da empresa. “Durante a pandemia não paramos, nosso volume de comercialização inclusive aumentou. Nenhum dos nossos colaboradores ficou doente. Não demitimos ninguém e seguimos contratando novos profissionais”, concluiu o empresário.

Durante a pandemia foram doadas 80 toneladas de feijão, explicou Mauricio Bortolanza, gerente comercial da empresa e membro da Câmara Setorial de Feijão da Secretaria. Nesse período, os supermercados instavam para que não faltasse o produto nas prateleiras. “A Kicaldo cuidou da distribuição e abastecimento de todos seus parceiros. Não faltaram produtos da marca para consumo durante pandemia,” ressaltou.

O secretário Gustavo Junqueira concordou e destacou as ações da Pasta para evitar que houvesse desabastecimento no Estado e para ajudar os produtores a escoar a produção. Além dos projetos que estão sendo idealizados para ajudar o setor a se organizar durante a pandemia, o secretário destacou a criação do site “Abastecimento Seguro”, cujo objetivo é fornecer informações aos consumidores e caminhoneiros sobre as estradas (localização e situação dos postos de combustíveis e condição das vias) e funcionamento dos serviços gerais de abastecimento, além da parceria para a distribuição gratuita, sem taxa de adesão ou de mensalidade, de 25.850 adesivos eletrônicos (tags) para o pagamento de pedágios nas rodovias do Estado aos caminhoneiros.

O feijão é importante para a economia do Estado, prova disso é que ficou na 16º posição no ranking do valor da produção agropecuária do Estado, com R$ 1,108 bilhão. A cultura tem grande potencial e continuar aumentando a produção sem alterar a área destinada ao cultivo, basta continuar investindo em tecnologias que melhorem cada vez mais a produtividade, afirmou o secretário.

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