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Dicas práticas sobre construções modulares com contêiner

Dicas práticas sobre construções modulares com contêiner

Por Andre Luiz Pinto*

Em agosto de 2017 recebi uma chamada por telefone do Leandro Bonifácio, um dos responsáveis pela feira de Gastronomia e Hotelaria SIRHA – uma das maiores feiras do mundo no setor, com edições em seis países – que teria sua terceira edição brasileira transferida do Rio de Janeiro para São Paulo em 2018. Ele propôs um desafio que me deixou ao mesmo tempo empolgado e intrigado: Construir um hotel real dentro do Centro de Convenções São Paulo Expo, na zona sul da cidade.

Para que isso fosse possível, ele imaginou uma construção utilizando contêineres e, para participar da iniciativa, já havia inclusive chamado a empresa Eurobrás, que trabalha com módulos de contêiner habitáveis há quase quarenta anos. Não foi minha primeira experiência com construções modulares, porém a mais desafiadora até então. Nunca havia desenhado um projeto de arquitetura em contêiner além de experimentos simples no horário livre do escritório.

Na primeira visita à fábrica, em Santo André, tomado pela empolgação em aprender algo diferente, já pude notar que um novo mundo se abriria para mim. Posso simplificar dizendo que uma série de mitos foram quebrados e tudo aquilo que imaginava sobre construções com contêineres era bem diferente na prática.

A sorte, no meu caso, foi poder contar com a equipe extremamente experiente da fábrica de contêineres, capaz de apontar todos as dificuldades que encontravam na tentativa de elevar o seu produto a uma nova condição, com características de requinte e conforto que garantisse sofisticação e percepção de aumento de valor agregado. Poucos meses depois, houve a entrada da Samba Hotéis no projeto, que estava buscando parceiros para desenvolver sua nova bandeira de hotéis em contêiner, a Samba in the Box. A entrada deste operador no grupo de trabalho adicionou conhecimentos nas práticas de gestão de hotelaria fundamentais na formatação final do hotel a ser montado.

Foram no total oito meses entre a primeira conversa e a montagem do hotel no Centro de Convenções. O planejamento prévio e os testes de materiais permitiram que a montagem do hotel fosse completamente finalizada em 6 dias, contando com itens de decoração e mobiliário. No entanto, o aprendizado de todos neste processo foi permanente. O resultado deste empreendimento pode ser verificado na página do nosso escritório.

Esta experiência me permitiu conhecer os principais pontos na construção modular com contêineres, o que me permite listar, com segurança, os itens mais importantes para quem pensa em construir utilizando este sistema:

Escolha o tipo de contêiner mais adequado para o tipo de obra que está realizando 

Contêineres marítimos (ou intermodais, como prefiro chamar) são excelentes para atividades que permitam que fiquem permanentemente abertos ou instalados em ambientes cobertos com alguma outra estrutura que o proteja da insolação. Para ambientes fechados e que demandem a permanência de pessoas no interior é melhor optar por módulos habitacionais, que contam com piso, paredes e tetos com proteção acústica e térmica.

Espaços reduzidos também vão bem com os contêineres intermodais, que são blocos que trabalham sozinhos. Se a opção for por espaços mais amplos, o ideal é utilizar os módulos habitacionais, que trabalham perfeitamente em conjunto, sem preocupações na união dos contêineres.

Verifique a procedência do contêiner 

Atenção especial é devida principalmente no uso de contêiner intermodal, que pode ter carregado alimentos, baterias e lixo, além de outros produtos que podem provocar contaminação da peça. Ainda que seja vendido como higienizado, alguns tipos de agente contaminante são quase impossíveis de serem removidos, como chumbo, por exemplo.

Prepare bem o terreno que for receber a edificação 

Não basta simplesmente chegar e posicionar os contêineres no solo. Tem que haver um preparo especial nos pontos de carga da peça, como qualquer outra construção. Isso é ainda mais importante quando há a junção de módulos porque a movimentação das peças pode causar patologias sérias na vedação, resultando em problemas não só de impermeabilização como de climatização dos ambientes.

Também é importante verificar a infraestrutura dos projetos complementares que irão atender o edifício em contêiner. Uma vez posicionado no terreno fica difícil passar tubulações por baixo das peças e às vezes dar a volta encarece ou até mesmo inviabiliza alguns sistemas de elétrica e hidráulica.

Escolha materiais flexíveis

Se o espaço que está sendo construído é em contêiner, o melhor é assumir, sem medo e preconceito, as características do sistema construtivo. Colocar chapas de madeira e gesso para simular uma construção convencional é uma ideia problemática. Tanto o contêiner intermodal quanto o habitacional sofre dilatações, retrações e torções incompatíveis com materiais rígidos.

A sugestão é utilizar materiais também flexíveis, que acompanhem a movimentação da estrutura. Nos pisos é adequado o uso de carpete em rolo ou placa, pisos vinílico ou mantas. Evite utilizar pedras e desconsidere totalmente o uso de cerâmica ou porcelanato.

Nas paredes pode-se utilizar chapas de madeira, desde que independentes da estrutura, siding ou revestimento vinílico ou tinta. Jamais deve-se instalar gesso ou cerâmica.

No forro pode-se optar por deixa-lo à mostra ou utilizar placas de forro mineral, isopor e lonas têxteis tensionadas.

Proteja portas e esquadrias

Devido às movimentações mencionadas no item anterior, portas e esquadrias são pontos a serem observados com extrema atenção em um projeto modular utilizando contêineres, pois são pontos vulneráveis que podem causar problemas na estanqueidade, impermeabilização e climatização do módulo. Sugere-se criar uma proteção sobre estes itens de modo a evitar que água de chuva possa alcançar as regiões das juntas entre a parede e as aberturas.

Não esqueça da acessibilidade 

Acessibilidade deve ser levada em conta a começar pelo acesso ao contêiner, que fica cerca de 25 cm elevado em relação ao piso da implantação. Como o espaço interno do contêiner pode ser reduzido, é necessário definir bem no projeto as áreas de circulação e permanência. Cuidado especial nessa área é importante não só para atender pessoas com necessidades especiais como também à crescente população de idosos.

Atenção aos custos 

Evite comparar o preço de um contêiner ao custo final da obra. Não é. Compare o valor do contêiner apenas com o custo da estrutura (de concreto ou metálica) e parte da vedação (alvenaria, dry-wall, ou madeira) de uma obra convencional.

As adaptações necessárias para que o contêiner fique em condições para funcionar adequadamente como espaço construído fazem com que o custo de seu uso fique bem próximo do custo de uma obra de alvenaria.

O custo de manutenção de um edifício modular com contêineres poderá ser maior que o de uma construção comum, especialmente no uso do ar-condicionado que, em algumas partes do país e dependendo do tipo de contêiner escolhido, pode ser necessário em tempo integral.

Verifique as leis municipais e estaduais do local de implantação do empreendimento.

São recorrentes os casos em que a ANVISA questiona o uso de contêineres intermodais na construção de lanchonetes e outros estabelecimentos comerciais devido aos fatores de contaminação que foram exemplificados no primeiro item. Por isso é importante verificar com a prefeitura do local e com órgãos de saneamento e meio ambiente estaduais sobre a possibilidade do uso de contêineres em alguns tipos de edificação.

Justifique o uso do contêiner

Existem diversos motivos para optar por uma obra modular com contêineres, dentre eles a velocidade da construção, custo, possibilidade de adaptação ou apenas pela estética. É sempre prudente estudar a motivação que levou a esta opção e colocar no papel os prós e contras do uso deste tipo de estrutura.

Iniciar qualquer trabalho sem planejamento ou conhecimento dos benefícios e riscos pode ser tornar um grande problema para proprietários, construtores e arquitetos.

*Designer de Arquitetura Sênior – Especialista em BIM | Designer de mobiliário modular para espaços reduzidos – Pokt Design + Arquitetura

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