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Disciplina positiva e a arquitetura escolar

Por Bruna de Lucca, diretora do Studio BR Arquitetura.

A escola é uma preparação para a vida adulta. Cada vez mais colégios adotam o modelo educacional positivista – metodologia baseada nos livros da série escritos pela Dra. Jane Nelsen e diversos co-autores que trabalha habilidades sociais e de vida em adultos, crianças e adolescentes, para que estes se tornem verdadeiramente bem-sucedidos, ou seja: cidadãos felizes e contribuintes para o bem de sua comunidade.

No entanto, um dos pontos chaves para o programa não é sempre levado em consideração na hora de escolher a melhor instituição para matricular os filhos: O espaço. O ambiente é parte da formação acadêmica e, sobretudo, da formação humana – como as crianças se relacionam com os outros. Para abrigar a metodologia e práticas da disciplina positiva é necessário um espaço físico educacional estrategicamente pensado, que ofereça condições de desenvolvimento de habilidades como: a constante resolução de problemas, cooperação sem competição, atividades sensoriais e aprendizado cooperativo, individual e em grupo.

O que está em jogo é a mensagem que o ambiente transmite e os tipos de comportamento que ele incita. Imaginem entrar em uma sala de aula que não estimula a criatividade e a coletividade. Mesmo que as bases educacionais afirmem que priorizam essas qualidades, sem um exemplo externo e tangível, o sistema fica incompleto e os jovens percebem essa contradição com o corpo, com o inconsciente ou até conscientemente.

Como a disciplina positiva valoriza a liberdade de escolha, espaço, tempo, movimento e circulação é imprescindível que o projeto arquitetônico conte com flexibilidade e estratégia que permitam com que a criança ocupe aquele ambiente de diversos modos – com o corpo, voz, livre circulação e arte. A sala de aula, refeitório, biblioteca e outros locais devem permitir maior autonomia e cooperação por parte da criança para que aconteça a conquista da independência e para que cada um se torne em corresponsável por seu próprio aprendizado, ainda que com concentração, ordem e organização.

É essencial o desenvolvimento de um projeto que conecte a escola com o aluno, que o faça sentir aceito e ouvido. Há inúmeras pesquisas que demonstram repetidamente que esta percepção de conexão e aceitação do aluno em relação à sua escola e/ou sociedade reduz consideravelmente os casos de comportamentos sociais arriscados, além de melhorar o desempenho acadêmico.

Muito mais do que um conselho para educadores, este é um aviso aos pais: visite a escola dos filhos, o que está no conteúdo programático se reflete nos espaços? É importante refletir sobre qual o papel da arquitetura para o aprendizado e, mais do que isso, buscar instituições que levem a sério os ideais que o programa positivo propõe. Não existe colaboração, autonomia e criatividade, sem um ambiente propício para que essas qualidades aflorem nos jovens e crianças.

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