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BIM e a disrupção na construção no Brasil

*Por Ricardo Bianca

Atualmente o conceito de disrupção tem ganhado um bom espaço nos debates sobre tecnologia, mas muitos ainda o confundem com simples inovação. Para cada novidade tecnológica que chega a um determinado segmento da indústria é preciso perguntar: isso vai realmente transformar um negócio e o seu ecossistema ou trará apenas uma melhoria incremental, útil e criativa? É justamente acerca de uma destas transformações profundas, que pretendemos abordar, entrando um pouco no que vem sendo feito de novo dentro de um setor tão tradicional.

A construção civil é um segmento que tem resistido à inovação e à disrupção. A própria empresa em que trabalho, a Autodesk, enfrenta cotidianamente o desafio de lidar com o olhar limitado com que esse mercado enxerga a tecnologia, pois até hoje nossa marca ainda é bastante associada à mais antiga e tradicional de suas soluções – o AutoCAD – embora nestes mais de 35 anos de história já tenhamos desenvolvido várias outras soluções mais inovadoras, e mesmo disruptivas, para esta e outras indústrias.

Neste ponto é importante tratarmos da Modelagem da Informação da Construção e do real impacto que a sua aplicação pode ter se adequadamente concretizada pelas empresas do setor. Com certeza um grande percentual do mercado brasileiro da construção já ouviu falar de BIM (Building Information Modeling), um processo disruptivo baseado em tecnologia que chegou já há alguns anos com a proposta de trazer mais produtividade, assertividade e qualidade para a construção civil. Resta perguntar o que falta ao Brasil para que efetivamente o BIM consolide-se como uma ferramenta de larga escala, como um novo e definitivo padrão para a indústria, como tem acontecido em muitos países ao redor do mundo.

Neste caminho de implantação do BIM no Brasil tivemos alguns percalços, sendo um dos mais significativos com uma das piores crises do setor da construção civil em toda a nossa história. Instabilidade política, consumidores sem dinheiro ou mesmo sem vontade de investir, analistas aconselhando cautela. Vimos também, até recentemente, altas taxas de vacância e elevados índices de distratos, o que acarretou enormes prejuízos para as incorporadoras e construtoras. No entanto, embora o setor ainda passe por um período difícil, o que temos visto é um crescente otimismo pela retomada; e isso pode levar ao derradeiro empurrão para a consolidação definitiva do BIM no País.

O contato contínuo com profissionais do setor tem descortinado a impressão de um novo momento para a indústria. Conversando com projetistas – importante termômetro do segmento, pois indiciam em seu montante de trabalho tanto crises iminentes quanto retomadas no horizonte – percebemos que o ano tem apresentado novas oportunidades.

Quando falamos de BIM em momentos de transição é interessante lembrar do que aconteceu nos Estados Unidos após a crise de 2008. O momento de crise fez com que as empresas norte-americanas revissem seus processos para que voltassem a crescer de forma mais competitiva. No Brasil foi um pouco diferente. As empresas estavam mais preocupadas, em um primeiro momento, em sobreviver. Agora, no entanto, com a retomada do otimismo, testemunhamos um novo ciclo de interesse pelo tema. Este é também, por si só, um importante sinal de melhoria do setor. Projetos em BIM já estão sendo retomados com uma maturidade que antes o mercado não possuía. Hoje, as empresas ligadas à construção civil já sabem que, para se posicionar e ganhar mercado, elas têm que ser mais competitivas. Neste contexto, o BIM é, sem sombra de dúvida, a ferramenta atual que mais contribui para que atinjam esse objetivo.

Há vários outros indícios desta retomada do BIM. Com essa iniciativa Licitações têm exigido a entrega de propostas dentro deste conceito. O segmento privado está a pleno vapor em sua adoção e o Governo Federal também está atento: lançou agora em maio o programa chamado de “estratégia nacional para disseminação do BIM”. Além disso, há mais de um ano o Brasil firmou um acordo com o Reino Unido para o fomento de um plano estratégico para a Modelagem da Informação da Construção no Brasil. Ainda mais significativa foi a criação, em meados de 2017, do Comitê Interministerial para o desenvolvimento do BIM no Brasil, responsável pelo desenvolvimento das estratégias de adoção do BIM pelo Governo Federal que começam a ser anunciadas agora neste primeiro semestre de 2018.

Com estas boas notícias podemos olhar ainda mais para frente. BIM é o ponto de partida para toda uma série de outras inovações e disrupções na construção civil. É preciso cuidar do ciclo de vida da edificação como um todo e ir além do projeto, trazendo a construção e a operação também para novas bases. É preciso garantir consistência dos dados e conectar todos os agentes do segmento do setor. É o que chamamos de BIM de terceiro nível, e é no que mais estamos atualmente investindo na Autodesk, com o desenvolvimento de novas soluções como a plataforma BIM 360. Acreditamos que esta seja a base necessária às próximas tendências que chegarão à indústria, e esta é a nossa grande aposta para o mercado brasileiro da construção civil nestes anos pós-crise.

 * Ricardo Bianca – especialista Técnico para Arquitetura, Engenharia e Construção da Autodesk Brasil.

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